shinsekai

Axis Mvndi - Epílogo

TEMPUS FUGIT

O estranho que chutaram para dentro de uma casa vazia parecia humano, mas definitivamente não era: a pele era pintada de espirais e curvas de todas as cores, onde predominava o verde, o vermelho e o azul; as roupas estavam rasgadas e ele falava uma língua que ninguém de Aarle-Rixtel sabia dizer de onde era: imaginavam que seria o latim — mas o padre negou —, e então o alemão, e o português, mas não chegaram a conclusão alguma. A tempestade de neve rugia forte lá fora, e o velho Tygo foi chamado para conter e trancar a besta em um quarto daquela construção abandonada.

— Ele me lembra aquele meu amigo que sumiu há trinta anos — disse o velho Tygo para os outros aldeões enquanto comia os pães pretos à mesa. — Naquela tempestade de neve… quando outro rapaz também sumiu… eu esqueci o nome dele, mas a esposa dele foi embora depois de um tempo… ela morava lá onde ele está agora. Que tipo de criatura é aquela…?

E, quando foram tirá-la de lá e mandá-la direto à fogueira, não a encontraram: o povo do vilarejo ficou em polvorosa, procurando em todos os cantos e todos os lugares, mas a besta já tinha partido há muito.

Em seu lugar, um livro. Escrito em uma língua que nem o padre sabia ler, mostrava plantas e frutas maravilhosas, estrelas em todos os cantos, páginas dobradas umas sobre as outras e coisas que não eram deste mundo.

O velho Tygo o tomou nas mãos e, mesmo não conseguindo decifrá-lo, folheou-o. De entre suas páginas surgiu um vaga-lume que voou janela afora e desapareceu pelos campos.